A música que nos faz voar

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Por Ti



“ – Sabes quais as implicações da tua decisão? – Perguntou Ele.
Olhando-o nos olhos respondi: - Sim. Sei!
- Ao aceitares esta Missão, ao tocares de novo com os pés na Terra terás que te despojar dos previlégios e poderes que a tua condição de Arcanjo te concede.
- Sabes que por “ele” prescindo de tudo o que aqui me previligia. Tu conheces-me... sabes que faço o que for preciso para o trazer de novo a casa...
- Sim conheco-te bem! Já é hora d' “ele” retornar a casa, de ocupar novamente o lugar que sempre lhe pertenceu. Ninguém melhor que tu para para o fazer, sempre o acompanhaste durante a sua condenação terrena. Tu conhece-lo bem. É chegada a hora de cumprirem a última Vida juntos, é hora de se completarem e finalmente se tornarem um ser Uno.
- Há já muito que não desço nem piso o solo terreno... mas nada nem ninguém me deterá!
- Basta invocares o Meu Nome que irei em teu auxílio.
- Sim. Sei que jamais me abandonarás meu Amigo.
- Agora vai. É chegada a hora de iniciares a tua Missão e te precipitares na tua Descida.
- Mikael...
- Sim?
- Não regressarei a Casa sem “ele”. Só voltarei quando quando a Minha Missão estiver cumprida.
- Eu sei. Jamais duvidei. Confio em ti!
- Adeus... Até breve Fiel Companheiro...


Desci...

Nasci...

Cresci
num corpo de menina lutando contra armadilhas de quem investe no fracasso da minha Missão. Feliz e protegida por Seres de Luz Infinita tornei-me uma Mulher.
Condenada ao esquecimento próprio de quem veste um corpo, desprovida de Poderes Celestiais, caminhando sobre valores incutidos por mãos sábias e exigentes cumpro mais uma Vida entre tantas outras vidas...

Jamais esquecerei o mágico momento em que suavemente acariciei o teu olhar... a catarse de recordações tomou conta do meu corpo, do meu coração e a minha alma reconheceu o que me trouxera aqui. Suaves lembranças quais sonhos assumaram a orla do meu espírito. Assustada fugi...

Tu, como quem adivinha o mais ítimo do meu ser, reconhecendo-me sem me conheceres seguiste-me, perseguiste-me, insististe como se um íman nos atraísse.

Eu, corri, resisti, afastei-te e sem querer magoei-te... finalmente desisti... tomando aos poucos consciência da imensidão de nós mesmos cedi.


Juntos... a sós... olhámo-nos... tocámo-nos... entregámo-nos... completámo-nos... numa explosão de Luz criámos o nosso próprio Mundo e permitimos que o reconhecimento mútuo trouxesse suaves lembranças de passados longínquos e intemporais. Numa permuta entre o Céu e a Terra iniciámos a mais difícil e a mais importante Missão:

A Nossa Vida a Dois!
Jamais partirei sem Ti Meu Doce Anjo!
"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!"

terça-feira, 22 de maio de 2007

Desta Vida




Parada na orla do bosque seguia com o olhar a tua silhueta enquanto caminhavas embrenhando-te rumo á escuridão densa do arvoredo... não te impedindo de prosseguir deixei-te á mercê das mais ignóbeis criaturas ferozes e selvagens que povoavam a escuridão premeditando a emboscada que lhes permitia saciar a sede básica de carne e de sangue, tendo como troféu apenas o teu corpo...
Imóvel, fria, o coração parou deixando de bombear o sangue que me aquecia. O torpor que se apodereou do meu corpo consumia também a minha alma. Baixei o rosto, fechei os olhos, grossas lágrimas emergiam do mais profundo que havia em mim deixando extrapolar toda a minha dor.
Passaram horas e a elas seguiram-se dias, semanas, meses... não sei quanto tempo fiquei esquecida do mundo, quanto tempo fiquei esquecida de mim mesma, apenas presa á lembrança da tua imagem...
Na imensidão daquele limbo perdido em que me afogava teimava em querer á força cortar com as mãos a corrente que me ancorava á solidão. Num último fôlego senti que todas as forças me abandonavam, ergui os braços, olhei em direcção á Luz, soltando num soluço o grito de dor que me abafava a voz pronunciei o nome da única ajuda que possuía, da única mão que poderia guiar os meus passos e devolver-me os sentidos...
O tempo parou... fechei os olhos... o calor tomou conta do meu corpo, aos poucos, num ritmo crescente ventriculos e auriculas bombearam novamente acordando os sentidos e trazendo á lembrança o significado desta vida. Elevei-me acima do solo... emergi da escuridão cortando as amarravas que me prendiam á inanimação e me toldavam os sentidos.
Alada novamente elevei-me acima das copas das árvores que adensavam os bosques, sobrevoeei a escuridão e num vôo rasante acolhi-te ferido e magoado.
Num abraço e sem ofereceres resistência aninhaste-te junto a mim, envolvi-te com as minhas asas, recebi-te no meu seio e olhei-te no olhos.

Não parti... não sem ti meu Anjo de Asas Quebradas! Sim já expiaste o suficiente... as asas essas serão sempre tuas... mas não aqui!


Juntos voámos, amámo-nos... relembraste então o doce sabor de voar, de te elevares acima de tudo.



Desta vida quero apenas não esquecer o que me trouxe aqui. Jamais partirei sem ti!